"Atacai-o onde não estiver preparado. Executai as vossas investidas somente quando não vos esperar." [ Sun Tzu ]

sábado, 24 de janeiro de 2009

42° Jogos Regionais, a primeira conquista.

Por Alcimar Alciati Balro

Nada melhor que comemorar os 10 anos da primeira vez em que a cidade de Itapetininga foi campeã de xadrez nos jogos regionais, do que, outro título de xadrez nos jogos regionais!

Apesar de não ter jogado neste ano, sinto-me vencedor também, e os jovens que conquistaram o titulo em 2008, são ainda "promessas" e mostram que o nosso clube de xadrez, o CXI, está no caminho correto.

Temos muitas limitações, mas há cerca de oito anos atrás, era difícil imaginar tamanha renovação e qualidade no nosso xadrez local, e creio que daqui para o futuro a tendência é somente melhorar.

A 42° edição dos Jogos Regionais ocorreu em Sorocaba, mas antes de falar dos jogos de 1998 em si, gostaria de contar rapidamente como eram as coisas no xadrez itapetiningano e dos regionais dessa época.

A região havia mudado recentemente com a saída das cidades da região de Bauru e a inclusão das cidades da redondeza de Jundiaí, o que especificamente na modalidade xadrez, significou trocar seis por meia-dúzia, isto é, uma grande força, por outra grande força.

Não haviam divisões nem categorias, a não ser xadrez masculino e xadrez feminino. Jovens e adultos jogavam lado a lado, frente a frente, trocando experiência, dividindo emoções e lutando junto por suas cidades. Também eram raras as contratações de equipes inteiras para defender uma mesma cidade.

Palavras como companheirismo e amizade, creio que são as ideais para representar esta fase de nosso xadrez, onde não prevaleciam interesses pessoais de A ou B, e sim o coletivo, buscando sempre conquistar as coisas em nome da equipe de xadrez de Itapetininga.

Essa sinergia e amizade entre os jogadores, além de render muitas amizades (jogávamos juntos desde 1992), trouxeram muitas conquistas, iniciando em 1995 com uma grande segunda colocação. Foram 2 campeonatos, 2 vice-campeonatos e 3 terceira colocações. (Peço desculpas por não dar as datas com precisão destes fatos, pois estou contando somente com minha memória e algumas planilhas dos jogos regionais como referência).


A 42º edição dos jogos regionais estava acontecendo em Sorocaba, que vinha com força maior: Os fortíssimos irmãos Soares (Cesar e Toninho) nos primeiros tabuleiros, seguidos de Wilson Zorob e Eugênio Hebst Neto. Jundiaí não ficava atrás, com Carlos Alejandro Martinez, Luis Henrique Capellano, Rodrigo de Deus Valente e Eduardo de Oliveira Marques.

Com tanta força assim em contra partida à nossa pernetice, nossa esperança era lutar por um terceiro lugar, com as equipes que rivalizavam com nossas forças como Itú, São Manuel, Registro, Botucatu e Salto.

A nossa equipe era formada por jogadores (pernetas) da casa do Sr. A, ou melhor Sr. Anestor de Souza, e tínhamos um convidado (não era contratado, era convidado!), que era o nosso primeiro tabuleiro. Eis a nossa equipe: [Ordem de Tabuleiro - Nome / (Apelido - hehe)]

1º - José Carlos Franco Nunes de Viveiros (com o nome desse tamanho, era conhecido por Zé Carlos)
2º - Martinho Figueira Capelo (Mestre Martes ou Martéquio)
3º - Alcimar Alciati Balro (O Trator, Arves, Alveslúmbrego)
4º - Roberto José Suardi Jr. (Robertinho, Betchungo, O Fenômeno da Estratégia!)
5º - José Jorge Lopes de Andrades (Jórjon, Vescovão, o computador)
6º - Frederick Werner Krapf Filho (Ninho, *** capitão da equipe ***)
7º - Pedro Marques Neto (Pedrão, Her-Her das medalhas, o Fenômeno da Marcação!)
8º - David Carmona (Mi dabissito ou Daviclosclês)

Praticamente jogamos todo o torneio com os 5 primeiros, recuando a equipe em duas ou 3 oportunidades com a ausência de Zé Carlos, e a escalação de Jorge no 4º tabuleiro, no mais jogaram os 3 primeiros, com Roberto e Jorge fazendo revezamento no 4º tabuleiro. Para aqueles que não conhecem, José Carlos é amigo de Martinho e juntos cresceram no xadrez praticando no Banespa e Borba Gato, e foram amigos e/ou contemporâneos de jogadores como Ivan Khulmann Nogueira, Mauro Guimarães de Souza, Julio Cesar Velasquez, Orlando Lee, Jefferson Pelikian, entre outros. (Jogavam muito!!!)

Os árbitros eram Olyntho Meirelles e Rodolpho Carmona ou Roberto Telles, não me lembro muito bem.

Na primeira rodada jogamos contra a cidade de Alumínio e ganhamos de 4 X 0, mas logo na segunda rodada pegamos Sorocaba e tomamos um "pneu"!!!, Foi 4 X 0 para os donos da casa. Deu né??? Perder fazia parte dos planos, mas de zero???

Com essa derrota acachapante na segunda rodada, os emparceiramentos nos favoreceram até a quinta rodada. Na terceira, juntamos os cacos e ganhamos de Pirajú, e na quarta de Várzea Paulista, ambas de 4 X 0.

A partir da quinta rodada nossa vida não seria nada fácil, deveríamos jogar com 2 de nossos concorrentes diretos e inevitavelmente Jundiaí. Voltávamos a lutar remotamente por um terceiro lugar, mas como não fizemos nenhum ponto contra Sorocaba, nossos critérios de desempate nos deixavam em 5º ou 6º lugar. Mas nosso fenômeno da estratégia refez os cálculos de noite e o pior tinha acontecido, o adversário da quinta rodada seria Jundiaí.

Ferrou, acabou tudo, vai ser outro "pneu". Já estávamos nos conformando em terminar em 5º lugar na melhor das hipóteses. O emparceiramento foi: Viveiros X Martinez, Martinho X Capellano, Alcimar X Rodrigo Valente, Jorge X Eduardo Marques.

Jogamos muito, mas muito mesmo, o que valeu o seguinte comentário de um jogador de Várzea Pta para o Jorjon:
- O que aconteceu??? o espírito de Alekhine baixou em todos vocês???

Depois de cerca de uma hora e meia passado das partidas, Martinho ganhara de Capellano (fortíssimo jogador, com rating FIDE já naquela época), Viveiros jogava de igual para igual com Martinez, Jorge e eu estávamos mais ou menos empatados em nossos jogos.

Mais meia hora e Jorge abandonava contra o Eduardo, por detalhe mínimo a
partida dele estava perdida.

Eu consegui segurar um ataque terrível e jogando sem pressão, (meu adversário já tinha rating FIDE e vinha aparecendo nas matérias dos jornais da época como grande revelação do xadrez), encontrei uma linha de mate e o Rodrigo abandonou (Infelizmente não tenho mais a planilha desta partida).


Viveiros estava muito melhor que Martinez... no tabuleiro, pois no tempo, estava muito pior, era algo como 30 minutos contra 7 minutos.

Martinez começou a jogar para ganhar no tempo e Viveiros acabou perdendo. Por desconhecimento de regra por parte de nossa equipe, Viveiros acabou perdendo!!!

Antes desta edição dos jogos regionais as regras haviam mudado e se um adversário tentasse jogar no tempo sem objetividade nos lances, deveria-se chamar o árbitro e comunicar o fato, então o árbitro deveria acompanhar a partida até que a seta caísse e decidiria pelo empate ou não. (É mais ou menos isso, talvez o Antônio ou o Abe possam explicar melhor).

Haha, carimbávamos a faixa de um, e voltávamos para o jogo. Agora não tinha mais bicho papão, ou tinha???

Sexta rodada e ganhamos raspando de São Manuel por 2,5 X 1,5. Essa foi minha única derrota na competição!

Sétima e última rodada, não me lembro de todas as combinações, mas Sorocaba precisava ganhar de Itú para ser campeã sem depender de ninguém e raramente perderia, pois havia "surrado" todo mundo com exceção do empate frente a Jundiaí.
Itú necessitava ganhar de Sorocaba para ter alguma chance (simplesmente impossível), Jundiaí tinha o segundo lugar com 85% de certeza. Salto, São Manuel e Itapetininga lutavam pelo terceiro lugar.

Essa foi a nossa análise antes dos matchs finais.

Na última rodada jogamos contra Salto e nossa equipe foi Viveiros, Martinho, Alcimar e Robertinho. Bem, só me lembro que meu adversário, o Nelson Uto, era um forte jogador, principalmente no xadrez rápido.

Para aquela partida e eu era um poço de nervosismo, estava de brancas e hoje consultando um arquivo de referência de aberturas, sei que jogamos uma Siciliana B90, Variante Najdorf, Ataque Lipnitzky, caracterizada pelos primeiros 6 lances:
(1. e4 c5 2. Cf3 d6 3. d4 cxd4 4. Cxd4 Cf6 5. Cc3 a6 6. Bc4 *)

Começava a última rodada... (Se hoje não tenho muita teoria, naquela época nem se fale!)

*(Para melhor visualização da partida, logo abaixo há o visor)

Alcimar Alciati Balro x Nelson Uto

01. e4 ... c5
02. Cf3 ... d6
03. d4 ... cxd4
04. Cxd4 ... Cf6
05. Cc3 ... a6
06. Bc4 ... e6

Até aqui estava tudo tranquilo, estávamos nos estudando, nada de gambitos ou armadilhas, e nas minhas contas, o Viveiros e o Martinho já eram 2 pontos garantidos, eu e o Betchungo tinhamos que fazer "só" meio ponto.

07. Be3 ... Be7
08. O-O ... Dc7
09. Bd3 ... Cbd7
10. Cb3 ... b5
11. f3 ... Bb7
12. De2 ... Ce5

O nervosismo continuava, me levantei e dei uma olhada geral... minhas contas estavam certas, o jogo do Betchungo era de tablas, assim como o meu. Até aqui era 3 X 1 pra nós.

13. Tad1 ... O-O
14. a3 ... Cc4

Pensei em jogar o Bispo em d4 no lance 13, mas não queria trocar o par de bispos e minha idéia era passar a torre para d1 e colocar o bispo pra "dormir" em c1, pra ele jogar no final, mas errei na execução do plano e não joguei o bispo. Eu deveria ter tomado o cavalo dele, mas...

15. Bc1 ... Cxa3

Se 16. bxa3 Dxc3, e ficaria com um peão a menos e isolado na coluna "a", preferi deixar assim e partir para o outro lado do tabuleiro. Mas antes de executar o lance dei uma verificada geral e o Viveiros estava irremediavelmente ganho, já o mestre Martes... Bom tinha o Roberto né, ainda estavamos bem, eu perco ou empato, o Roberto empata, mestre Martes empata e belê! Segue o plano.

16. f4 ... Cc4
17. Tde1 ... e5
18. Cd2 ... Tac8

Dei uma outra analisada no meu jogo e... quis chamar o Sr. A (pra quem não sabe, toda vez que o Her-her estava em maus lençóis, ele chamava o Sr. A, mas berrando, hehehe). Meus bispos jogavam tanto que pareciam peões! E ele tinha um cavalo chato pronto pra dar coices.

19. Bxc4 ... bxc4
20. fxe5 ... dxe5
21. Rh1 ... Tfd8
22. Cf3 ... Bb4
23. Bg5 ... Be7
24. Bc1 ... Td6
25. h3 ... Ch5

Não tinha muito o que fazer e estava pensando como o Zagalo: Que empate o melhor! que era ele, hehe, eu estava propondo empate por volta destes lances, e ele queria me dar um triplo com o cavalo, que "mardade".

26. Df2 ... Tg6

Agora ele já queria arrebentar com tudo.

27. g4 ... Bc5
28. Dh2 ... Cf4
29. Cxe5 ... Dxe5
30. Bxf4 ... De7
31. Cd5 ... De6
32. De2 ... Td8

Me sentia melhor em relação a minha partida, e ofereci empate mais uma ou duas vezes, o par de bispos dele jogava muito. A partida do Martinho havia terminado em tablas. Agora ferrou, eu e o Robertinho tínhamos que fazer de qualquer jeito aquele meio ponto, mas a partida do Roberto também estava com vantagem para o jogador adversário. O salão de jogos já estava ficando vazio e os árbitros fizeram um cordão para isolar o salão.

33. Rh2 ... Bxd5
34. Dd2 ... Bd6
35. exd5 ... Bxf4+
36. Dxf4 ... Dd6

Agora me sentia melhor, achava que havia equilibrado a partida, o plano era perder o peão da coluna "d" em troca do peão da coluna "c" e defendendo os meus peões na ala da dama, e se possível ameaçar mate, já que o rei dele não tinha respiro. Meu tempo estava melhor. O Roberto estava perdido na partida dele. O salão inteiro estava vazio, só faltavam as nossas partidas. O Roberto não desistia para não ser retirado do salão e poder assistir de camarote o meu jogo. Os árbitros estavam a nossa volta dentro do salão. E eu fiz meu lance e ofereci tablas de novo (hehe).

37. Te4 ... Dxd5

Ele havia escolhido a pior seqüência no momento Dxd5! Neste momento o Nelson havia entrado no ping final e eu tinha 10 minutos. 10 minutos pra achar um lance que nos classificaria e o lance existia, ele estava lá! É fazer e ganhar, simples né? Mas eu não vi! Faltavam 6 minutos e meu adversário estava quase abandonando quando NÃO joguei o ganhador Td4 (é muito fácil verificar que ele é muito superior, pra não dizer ganhador), e sim o razoável:

38. Tfe1

Nesse momento Roberto deu um urro e o Olyntho ameaçou a retirá-lo do salão!!! Eu dei a sobre-vida que o Nelson precisava...

38. ... Te6

A bexiga esta explodindo neste momento, mas ir ao banheiro nem pensar!!! A partir daí entramos os 2 no ping final, ele tinha 3 minutos e eu 5. Batemos peça e eu oferecia tablas, a luta continuou sempre com superioridade dele, oportunidades de mate, as mãos dos 2 jogadores tremiam, eu suava, e de repente o Olyntho apontou pro relógio e gritou "SEEETAAA".
Dai pra diante, foi tudo muito rápido.

Não tive coragem de olhar no relógio... Olhei pro tabuleiro e depois pro Nelson, e ele já estava olhando pra mim quando nos estendemos a mão... então olhei pro relógio...

Foi a seta dele que caiu!!! Ganhamos o match!! Somos terceiro lugar!!! Classificamos pros abertos!!!

Parecia comemoração de futebol, o Martinho pulou no meu pescoço, seguido pelo Roberto. Virei para o Jorge e falei:

- Ganhamos... somos bronze.
- Você ainda não sabe??? Sorocaba entregou pra Itú, então...

Comecei a tentar refazer as contas, mas o Martinho já emendou

- Somos campeões!!!

Caramba... Sorocaba havia perdido (ou entregado) para Itú, que ficou em terceiro, Jundiaí ficara em segundo e Sorocaba não classificara entre os 3 primeiros.

Foi uma combinação de situações que proporcionou o titulo, mas creio que merecíamos ganhar mesmo. Éramos unidos, jogamos limpo, e jogamos um belo xadrez, para amadores que sempre fomos.

Desejo a todos os companheiros de equipe de 1998 meus parabéns, pelos 10 anos de nossa primeira conquista. Pra mim até hoje, essa partida e os momentos associados a ela, são inesquecíveis.

Pelas circuntâncias e pelo significado, considero esta partida, a mais importante que joguei, dentre todas até hoje!

Alcimar Alciati Balro (o Arves),
Enxadrista Amador, Perneta Convicto e Orgulhosamente Vice-Presidente do CXI

Nota: Para os pernetas que não viram, depois de 38. Td4:
Se 38. ... Dxd4, 39. Dxf7+ Rh8 40. Df8+ Txf8 41. Txf8++
Se 38. ... Da8, 39. Txd8+ Dxd8 40. Dxf7+ Rh8 41. Df8+ Dxf8 41. Txf8++
Qualquer outra sequencia, no mínimo, perde a dama.


3 Comentários:

Martinho disse...

Muito bom lembrar esse acontecimento, realmente foi um dos mais emocionantes finais de campeonato.

E muito bom ter este documento para a história.

Grande abraço a todos de Itapetininga.

muttleychess disse...

Putz conheço pelo menos duas figuras da equipe

O Viveiros e O Martinho vulgo Mcgaiver

Caio Franco disse...

Alcimar,

Eu sou o "homem do nome comprido", Viveiros! Que bacana relembrar essa história. Tem alguma foto?
Vou procurar, mas não sei se vou encontrar alguma partida minha do torneio. Meu compadre Martinho, sempre mais organizado do que eu, deve ter alguma - dele, é claro.
Estava mesmo ganho com o Martinez, ainda bem que essa derrota acabou não fazendo diferença...
Abraços,

Caio Franco (a.k.a. Viveiros)

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